POR PASTOR WAGNER ANTONIO DE ARAUJO
O ABECEDÁRIO DE DEUS
Quanta saudade nos traz a lembrança da primeira escola onde fomos alfabetizados! Tempo de descobertas, tempo de surpresas, tempo de desafios! Alguns estudaram na escolinha da roça, onde aprenderam a tabuada e o á-bê-cê. Outros, de origem urbana, recordam-se com doçura do pré-primário. Mas cada um de nós tem uma história para contar sobre aqueles primeiros anos!
O abecedário mais popular em todo o Brasil durante muitos anos foi “Caminho Suave”, ainda publicado e utilizado por alguns professores. Eu, entretanto, aprendi a ler e a escrever com a cartilha “Convite à Leitura”. Mas todas as cartilhas propiciavam ao infante a mesma oportunidade: familiarizá-lo com as letras, as sílabas, os formatos de escrita e de imprensa e, finalmente, com a leitura de todos os textos em português.
Comumente, antes da era da pedagogia construtivista, nossos mestres nos ensinavam a formar sílabas: bê-á-bá; cê-á-cá, de-á-dá, etc. E as primeiras letras que aprendíamos eram A-B-C-D. O nosso alfabeto inicia-se com essas letras. E ABCD é sinônimo de alfabeto.
Hoje, contudo, aprenderemos um outro alfabeto, não mais pelo abecedário dos homens, mas pelo abecedário de Deus. No nosso alfabeto as primeiras letras são ABCD. No divino, as letras principais são OBDC.
Qual o significado de O-BÊ-DÊ-CÊ ? Sem dúvida, trata-se de uma ilustração, que vem em boa hora para ajudar-nos a nos comunicar de forma satisfatória com o nosso Criador. A linguagem através da qual nos comunicamos com Deus é a linguagem da OBEDIÊNCIA, da submissão, da entrega voluntária da nossa vontade e da aceitação da vontade de Deus para as nossas vidas. Obediência é a linguagem que toca o coração de Deus.
Vejamos então: o que nos lembram cada uma das letras que formam esse acróstico?
1) O, DE “ORDEM”
Obediência não é uma opção para os Filhos de Deus, tanto quanto obediência não é uma opção para os nossos filhos. Obedecer é uma ORDEM. Trata-se de uma condição indispensável no relacionamento pais-e-filhos, algo obrigatório e indispensável. Certamente pela falta da obediência é que estamos vivendo numa sociedade completamente confusa, violenta, imoral e desumana.
Samuel, quando repreendia Saul por este ter feito sacrifícios sem a presença dele, o que era indispensável para aquele momento, afirmou peremptoriamente: “Samuel, porém, disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros” (I Samuel 22.15). Deus considera a obediência à Sua Palavra melhor do que sacrifícios, e atender aos Seus mandamentos melhor do que ofertas. Vejam a importância de se obedecer ao Senhor!
Jesus, o nosso único e Todo-Suficiente Salvador, condicionou o nosso amor a Ele pela obediência que lhe prestássemos, na observância de Seus mandamentos. Disse-nos Ele: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.” (João 15.14) E complementou: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.” (idem, 14.15).
O saudoso Pastor Dr. Rubens Lopes, brilhante príncipe dos púlpitos batistas nas décadas de 40 a 70, pastor da Igreja Batista de Vila Mariana, SP, criou uma frase inesquecível: “Não se pode amar sem obedecer, tanto quanto não se pode obedecer sem amar”. Grande verdade! A verdadeira obediência não se impõe; se conquista ! E, para o relacionamento dos homens com o Criador, a obediência é aspecto indispensável, sem a qual não há comunhão.
2) B, de “BÊNÇÃO”
Ao cristão cabe a obediência, não como penalidade, mas como privilégio. Foi assim que Jesus Cristo, o Unigênito do Pai, encarou a necessidade exemplar de ser-Lhe submisso: “Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra.” (João 4.34). Obedecer era uma bênção para Jesus, pois lhe satisfazia a alma agradar ao Pai em todos os aspectos e sentidos! “E aquele que me enviou está comigo; não me tem deixado só; porque faço sempre o que é do seu agrado.” (João 8.29)
Quando obedecemos ao Senhor e cumprimos os Seus mandamentos recebemos bênçãos decorrentes de tal obediência, bênçãos condicionadas à nossa submissão. É um erro pensarmos que, junto com a salvação, que nos é garantida pela fé, obteremos também o galardão, que é fruto de nossa obediência e dedicação. Quem é salvo tem prazer em obedecer. Quem está perdido não tem em si o espírito de submissão. Por isso é indispensável que, na avaliação de nossa vida cristã, nos questionemos sobre nossa obediência a Deus.
“E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás por cima, e não por baixo; se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que eu hoje te ordeno, para os guardar e cumprir. “ (Deuteronômio 28.13) Uma bênção aos hebreus, caso fossem fiéis a Deus, que os criou e constituiu, coisa à qual não se ativeram. Assim, “E entraram na terra, e a possuíram; mas não obedeceram à tua voz, nem andaram na tua lei; de tudo o que lhes mandaste fazer, eles não fizeram nada; pelo que ordenaste lhes sucedesse todo este mal.” (Jeremias 32.23)
Que bênçãos estariam reservadas para nós, se diligentemente obedecêssemos ao Senhor? Várias, dentre as quais citamos:
A bênção do pão de cada dia: “Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus.” (Filipenses 4.19) “Ora, Deus é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera.”(Efésios 3.20)
A bênção da oração respondida: “Muito pode a oração de um justo em seus efeitos” (Tiago 5.16)
A bênção da proteção contra Satanás: “Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós.” (Tiago 4.7)
A bênção de ganhar almas para Cristo e obter galardões: “O fruto do justo é árvore de vida; e o que ganha almas sábio é.”(Provérbios 11.30); “E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória.” (I Pedro 5.4)
Se nós gastássemos um pouco do tempo que perdemos em coisas de nenhum valor, numa pesquisa sincera, piedosa e profunda sobre quais são as bênçãos decorrentes da obediência, ficaríamos impressionados com a infinidade de promessas que encontraríamos. Queira o Espírito Santo que as que acabamos de citar despertem o interesse de todos na obediência ao Senhor. É correto esperar pelas bênçãos do Senhor, como fez Moisés, que, “tendo em vista a recompensa”, desprezou sua posição política no Egito, preferindo o vitupério de Cristo! (cf. Hebreus 11.26)
3) D, de “DECISÃO”
O saudoso Reverendo Josué Alves de Oliveira, pastor da Igreja Congregacional de Santos, SP, em seu opúsculo “A Excelência do Ministério”, explica-nos com maestria a diferença entre ser um escravo de homens e sermos escravos de Deus: “O escravo dos homens não tem vontade própria, nem liberdade de ação. Sua vontade é a do seu senhor, imposta por violência e prepotência. Não é o caso de Paulo e dos ministros em geral, que servem por amor e plena submissão ao Senhor Jesus. São escravos voluntários porque ouvem o chamado e, em prova de gratidão pela maravilha da salvação, querem servir. É uma decisão voluntária e pessoal. “ ( pág. 78, capítulo III). Conquanto o Rev. Josué estivesse expondo a questão quanto aos ministros do Senhor, a explicação é válida para todo e qualquer servo de Deus, que se dispõe voluntariamente a obedecê-lo: tem que ser uma decisão pessoal, e, se imposta, que o seja pela consciência, e nunca pela força.
Disse Josué ao rebelde povo hebreu: “Mas, se vos parece mal o servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do Rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Josué 24.15). A própria nomeação de Israel como “povo de Deus”, “nação sacerdotal” não foi um ato de imposição divina, mas baseado em um compromisso do povo para com o Senhor:“Também tomou o livro do pacto e o leu perante o povo; e o povo disse: Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos.” (Êxodo 24.7). Logo, se foram vítima dos caldeus e de tantos outros, houve uma origem de quebra do compromisso voluntário que fizeram.
Ser de Cristo é um ato miraculoso, que acontece no cerne da alma humana. O Espírito Santo trabalha em nossos corações, enquanto ainda somos perdidos e pecadores, e convence-nos do pecado da justiça e do juízo. A seguir, de uma forma ou de outra, somos levados à conversão, seja através de um apelo evangelístico, seja por um estudo bíblico, um programa televisivo ou a leitura de um folheto. Então, naquele dia, decidimos seguir ao Senhor. Somos admitidos como filhos amados, como soldados do Reino, como cidadãos dos céus. Assim como recebemos a Cristo como Salvador, também o admitimos como único senhor. E senhor significa dono, proprietário, autoridade. Nós voluntariamente decidimos obedecer-lhe. Trata-se de algo voluntariamente aceito, e que deve ser assumido ao longo da vida.
Ao ter Jesus nós decidimos obedecer ao Senhor: “Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.” (João 12.26). Nunca Jesus obrigou quem quer que fosse a seguí-Lo. Suas expressões são sempre persuasivas, nunca intimidatórias: “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me;” (Mateus 16.24); “...se é que queres entrar na vida, guarda os mandamentos.” (Mateus 19.17b); “Perguntou ao cego: Que queres que te faça? Respondeu-lhe o cego: Mestre, que eu veja.” (Marcos 10.51); “Vinde a mim” (Mt 11.28a); etc. Se aceitarmos o seu convite, teremos vida; do contrário, arcaremos com as conseqüências: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.”(João 3.36)
Quando eu me converti ao Senhor sabia que estaria mudando de vida, ainda que não soubesse como faria. Deus a mudou por mim. Assim acontece com quem ama ao Senhor: é transformado pelo Seu poder. Mas tudo vem de um compromisso que com Ele assumimos, qual seja, o de obedecer-lhe: “O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência.” (Deuteronômio 30.19)
4) C, de “COMPROMISSO”
Em nosso acróstico do abecedário divino, “c” é a última letra. Ela nos alude ao compromisso que temos com o Senhor, algo que nos faz perseverar até a morte, até o fim. O que mais vemos nos dias atuais são pessoas que traem a confiança de outrem, seja de um cônjuge, seja de um governador, seja de um povo. As pessoas estão se tornando volúveis, ou, como querem os entendidos das bolsas de valores, “voláteis”. Ninguém pode confiar mais em ninguém, pois, se confiar, estará sujeito a tristes decepções ao longo da vida. Certamente que a confiança excessiva é pecado diante de Deus, que amaldiçoou homens que confiavam em homens (cf. Jeremias 17.5). Contudo, Jesus Cristo ensinou-nos a lealdade, ao afirmar que o nosso falar deveria ser “sim, sim; não, não”, e o que disso passasse seria considerado de procedência maligna (cf Mt 5.37). Hoje, porém, as pessoas têm considerado algo normal um “amadurecimento de opinião, mudança de sentimentos, alteração de rumos”, em coisas com as quais se comprometeram em nome da honra! Dizem os mais velhos que “o fio do bigode” selava um negócio, querendo com isso indicar compromisso oral pura e simplesmente. Hoje, em dias “voláteis”, nem que se amarre a pessoa a uma pedra não se consegue ter segurança de sua integridade e cumprimento da palavra! Aliás, pessoas inconversas, pois as cristãs são cumpridoras de seus deveres e decisões. Os que assim não são correm o risco de serem falsos crentes, pois não possuem o compromisso básico no Senhor, qual seja, o de serem verdadeiros.
Tornamo-nos obedientes ao Senhor voluntariamente e assumimos um compromisso eterno. Não voltamos atrás. Por isso cremos que os salvos jamais se perdem, pois perseveram até o fim: “E sereis odiados de todos por causa do meu nome, mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.” (Mateus 10.22). Jesus foi peremptório ao rapaz que se ofereceu como seguidor do Senhor, mas que desejava despedir-se dos de casa: “...Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus.” (Lucas 9.61).
Muitas vezes as provações são grandes, terríveis, sufocantes. Mas o Senhor nos ajuda, nos acompanha, nos assiste. Contudo, perserverar será nossa tarefa, e não dEle. Se voltarmos atrás, será por nossa escolha e risco. “Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam.” (Tiago 1.12). “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” (Apocalipse 2.10b) ; “Não vos sobreveio nenhuma tentação, senão humana; mas fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o meio de saída, para que a possais suportar.” (I Coríntios 10.13). É bem verdade que o apóstolo Paulo certa feita afirmou o contrário, dizendo:“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira oprimidos acima das nossas forças, de modo tal que até da vida desesperamos” (II Coríntios 1.8); porém, também está escrito: “Fiel é esta palavra: Se, pois, já morremos com ele, também com ele viveremos” (II Timóteo 2.11). Nada pode destruir um servo do Senhor.
CONCLUSÃO
Lembremo-nos do bem-aventurado Policarpo! Ele, com sua fidelidade, tornou-se símbolo do cristianismo autêntico, que não teme aos homens, mas submete-se a Deus!
Lembremo-nos do Apóstolo Paulo, cuja vida vivida em prol do Reino de Deus propiciou-nos a bênção de termos a instrução bíblica necessária, pois dispôs-se a ser porta-voz do Senhor!
Lembremo-nos que há um céu nos esperando, aguardando para galardoar os “mais que vencedores por Cristo Jesus”!
Cumpramos o ABECEDÁRIO DE DEUS!
Pr. Wagner Antonio de Araújo
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